quarta-feira, 23 de dezembro de 2009



FRAGMENTOS DE UM CONTO.
SOLIDÃO
Autor: Carlos Henrique Rangel

O carro freiou cantando sua música e os dois pularam assustados para o passeio.
- Merda! Viu só... quase nos pegou. Essa porra de cidade...- Reclamou o rapaz.
- Calma ... – Pediu a moça.
- Calma ! Olha, não sei o que você vê nisso aqui, porque não quer ir comigo? - Perguntou o rapaz.
A moça jogou o cabelo para traz pensativa. Deu alguns passos e o esperou.
- Eu nasci aqui. Gosto daqui . Você não entende ? tenho meu trabalho ...
– Justificou a garota.
- Mas você pode estudar lá, basta querer , quem sabe na mesma escola que eu.. parece que não gosta de mim... – Tentou convencer.


Ela gostava . Mas gostava também de se mesma. Tinha seu ritmo, mais lento que o dele, calmo como uma brisa. Ele era um furacão acadêmico correndo atrás de títulos, um canibal do saber.

Ela se contentava em ser uma provinciana de cultura mediana, com a ambição de passarinho.

Ele tremia com a febre dos que querem abraçar o mundo e a Lua e depois o Sol.

Ela queria o socego de um banco de praça ao som de pardais e o calor de um Sol da manhã.

Ele acordava cedo e digeria livros no café da manhã e redigia textos em línguas diversas.

Ela fazia oito anos de uma calma rotina profissional. Degustando cada dia de seu mundo igual.

Ele possuía um grande curriculum e uma carteira profissional abarrotada de experiências gratificantes mas ainda insuficientes .

- Uma cerveja. – Resmungou a moça.
- Oque?
- Vamos tomar uma cerveja. – Repetiu.
- Ora não desvia o assunto. Me dê apenas uma razão para não querer ir.- Pediu ele.
- Te dei várias. – Respondeu ela.
- Me dê uma séria.
- São todas sérias... Para mim...
- E para mim ? – Perguntou o rapaz.
- Para você a eterna insegurança do infinito.
- Quero mais. Quero você.
- Você quer demais ... Porque não menos? - Pediu ela.


Ele tentou sorrir. No momento queria uma cerveja. Pararam em um bar e pediram.
- A sua saúde.
- A sua .
- Pode ser a nossa...

Ela riu. Bebeu uma pequena quantidade do líquido e chorou.
- Você é diferente.
- Somos diferentes.
- Queria que fossemos iguais.
- Queria ser como você... Mas não sou...
- As cidades são iguais.
- Então fica... – Pediu a moça.
- Então vem ... – Retrucou o moço.
- Não posso, não sou como você.
- Sim . Não é...
- E o amor?
- E o amor...

Os dois choraram. Lá fora uma chuva fina caia apavorando a rua . Uma menina aproxima vendendo rosas...


( Não é o fim. Essa pequena passagem faz parte de um conto)

3 comentários:

  1. Olá Proteus! Muito interessantes suas palavras, interessantes e reais. Senti em minha pele as dificuldades dessa moças, diferenças ... quem já não se deparou com elas! Quero ter atitudes assim como ela, gostar sempre mais de mim mesma...assim gostamos mais dos outros também!
    Beijinhos da Ceci.

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  2. Ceci,
    Somos todos iguais, mas diferentes... Alguém tem que abrir mão de alguma coisa. O melhor seria que cada um pudesse abrir mão de parte.
    Talvez as coisas dessem certo...

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  3. ann... Acho que tem uma coisa que eles ainda não aprenderam...

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