SOLIDÃO
Autor: Carlos Henrique Rangel
1
Um carro.
A buzina do carro.
Um pequeno susto do rapaz
cabeludo regado a respingos de cerveja.
Ele sorriu sem graça
correndo os olhos pelas mesas vazias.
As horas no braço diziam o
tamanho do atraso, um tempo a mais para reflexões.
Concessão à solidão voluntária
de um eterno melancólico.
A definição, de sua autoria, prevalecia há uma década em cumplicidade frequente
com várias marcas de cerveja.
A menos querida da época,
uma rebeldia inconsequente contra a coletividade. A solidão talvez fosse uma
defesa contra si mesmo.
Contra um certo animal
suicida que o envolvia com pessoas extremamente populares, entorpecidas pôr uma
alegria vulgar.
Este era o caso no
momento.
A moça era linda, de um
sorriso de criança, quase santo.
Dizia asneiras com a
facilidade respiratória, com a consciência de marxista ortodoxo.
Seus beijos eram ardentes,
recheados de abraços carinhosos.
Ele gostava.
Das asneiras nem tanto.
Dos carinhos, só até o
ponto do orgasmo, quando a solidão interior ressurgia recheada de saudades das
adolescentes satisfações individuais.
Ele lhe dizia poesias que ela achava suas, batendo palmas lacrimejantes.
Ele sorria ou quase isso.
Tentavam conversar sobre o
dia a dia.
Os comuns casos
familiares, as intrigas pouco sérias dos locais de trabalho.
Ele quase achava que era
igual a ela.
Uma ilusão passageira.
No fundo prevalecia o
“chato”, o eterno infeliz acompanhado da pior cerveja.
O garçom trouxe outra e encheu o copo.
Ele bebeu um pouco
enquanto observava a ocupação ruidosa da mesa ao lado. Gritavam bobagens
naturais de garotos em fim de semana, um passado que não enriquecia seu
curriculum.
Seus trinta anos lhe
pesavam como cinquenta e as brincadeiras juvenis feriam seu tempo.
Ela chegou sorridente distribuindo cumprimentos aos garçons, atrapalhando- lhe
o cabelo e se sentando ruidosamente.
Ele fingiu um sorriso,
deu-lhe um beijo profundo e se irritou com as arestas salgadas de euforia que
lhe feriram o paladar.
- Demorei porque a Beth ... Sabe a Beth? Aquela ruiva? Pois é, a Beth me
segurou um pouco numa loja. Mas aqui estou lindinha para você. – Disse ela
eufórica.
- Tudo bem. Não foi tanto assim. - Resmungou ele enchendo o copo trazido pelo
garçom.
- E ai, me conta como foi seu dia. - Pediu ela quase mecanicamente olhando
distraidamente para os lados.
Ele contou tentando colorir um dia sem brilho de um bancário insatisfeito.
Tirou do bolso um cigarro.
Deu algumas tragadas e o
jogou ao chão.
- Fiquei com saudades ... Quase te liguei... - Disse ele mentindo.
- Porque não? Eu ia gostar. Gosto quando você liga. Sua voz me alegra, ajuda a
levar o dia - disse ela acariciando-o.
O beijo foi bom.
Ele mergulhou em torpor
conhecido, sentindo, digerido e se anulou covarde adiando o inevitável...
Amanhã talvez, quem sabe...
2
O carro freou cantando sua música e os dois pularam assustados para o passeio.
- Merda! Viu só... quase nos pegou. Essa porra de cidade...- Reclamou o rapaz.
- Calma ... – Pediu a moça.
- Calma ! Olha, não sei o que você vê nisso aqui, porque não quer ir comigo? -
Perguntou o rapaz.
A moça jogou o cabelo para traz pensativa.
Deu alguns passos e o
esperou.
- Eu nasci aqui. Gosto daqui . Você não entende? Tenho meu trabalho ...
– Justificou a garota.
- Mas você pode estudar lá, basta querer. Quem sabe na mesma escola que eu...
parece que não gosta de mim... – Tentou convencer.
Ela gostava.
Mas gostava também de se
mesma.
Tinha seu ritmo, mais
lento que o dele, calmo como uma brisa.
Ele era um furacão
acadêmico correndo atrás de títulos, um canibal do saber.
Ela se contentava em ser uma provinciana de cultura mediana, com a ambição de
passarinho.
Ele tremia com a febre dos que querem abraçar o mundo e a Lua e depois o Sol.
Ela queria o sossego de um banco de praça ao som de pardais e o calor de um Sol
da manhã.
Ele acordava cedo e digeria livros no café da manhã e redigia textos em línguas
diversas.
Ela fazia oito anos de uma calma rotina profissional.
Degustando cada dia de seu
mundo igual.
Ele possuía um grande curriculum e uma carteira profissional abarrotada de
experiências gratificantes mas ainda insuficientes.
- Uma cerveja. – Resmungou a moça.
- Oque?
- Vamos tomar uma cerveja. – Repetiu.
- Ora não desvia o assunto. Me dê apenas uma razão para não querer
ir.- Pediu ele.
- Te dei várias. – Respondeu ela.
- Me dê uma séria.
- São todas sérias... Para mim...
- E para mim ? – Perguntou o rapaz.
- Para você a eterna insegurança do infinito.
- Quero mais. Quero você.
- Você quer demais ... Porque não menos? - Pediu ela.
Ele tentou sorrir. No momento queria uma cerveja. Pararam em um bar e pediram.
- A sua saúde.
- A sua.
- Pode ser a nossa...
Ela riu.
Bebeu uma pequena
quantidade do líquido e chorou.
- Você é diferente.
- Somos diferentes.
- Queria que fossemos iguais.
- Queria ser como você... Mas não sou...
- As cidades são iguais.
- Então fica... – Pediu a moça.
- Então vem ... – Retrucou o moço.
- Não posso, não sou como você.
- Sim . Não é...
- E o amor?
- E o amor...
Os dois choraram.
Lá fora uma chuva fina
caia apavorando a rua.
Uma menina aproxima
vendendo rosas...
3
O carro passou a uma boa velocidade.
Ele achou bonito o
motorista mas ele não parou.
Ajeitou a saia e sorriu
intimamente.
Lembrou-se do parceiro da
noite anterior, o de olhos azuis.
Sentiu vontade de vê-lo
novamente.
Achava que não veria mais.
Rodou a bolsa como uma moça.
Não era uma moça e sabia.
Uma colega cruzou o seu
caminho.
Não parou.
Uma inimiga.
Tão velha quanto ele.
Tão infeliz quanto ele.
Em outros tempos muitos parceiros, muito dinheiro, alguns amigos, alguns
amores.
O hoje era quase uma
solidão.
- E aí boneca - cumprimentou o Pipoqueiro sorrindo com os limitados dentes.
- Não sou boneca - Disse ele irritado.
- Claro que é - Riu o Pipoqueiro.
- Já fui.
- Deprimida?
- Um pouco.
O Pipoqueiro lhe passou um saquinho amigavelmente.
Ele aceitou e sorriu
triste.
- Não pintou ninguém hoje?
- Ainda não.
- É cedo...
- É tarde...
- Ainda não vendi nada. Vou vender...
- Vendi muito. Não vendo mais... Quase imploro.
Ele riu. O Pipoqueiro também.
- A concorrência é grande...
- E a experiência não conta?
- As pipocas são boas quentes. - Lembrou o Pipoqueiro abaixando a cabeça.
- Há alguns anos eu era a quente.
- E tem que ter sal.
- Eu tinha sal ...E doce...
- Os saquinhos limpos...
- O pouco dinheiro não permite renovar o guarda-roupa. -Disse ele mostrando a
meia rasgada.
O Pipoqueiro pousou o pé direito sobre o banquinho e olhou para o Céu.
- Essa chuva atrapalha - Disse o Pipoqueiro.
- Eh, a chuva atrapalha.
- No frio vendo bem.
- No frio me dava bem.
- Aposto que sim - Riu o Pipoqueiro.
- E a namorada? - Perguntou ele desviando o assunto.
- Terminamos. Queria casar... Não posso casar.
- Que pena... Eu casava sem poder - Disse ele.
- A vida é difícil a dois...
- É difícil a um.
- Essa chuva atrapalha. - Repetiu o Pipoqueiro. Ele riu. Lembrou-se novamente
dos olhos azuis. Ele estava bêbado, não volta mais.
- Ainda é cedo - Disse ele.
- Eu sei - Concordou o Pipoqueiro.
- Te vejo depois - Disse ele se afastando.
- Boa sorte.
- Boa sorte...
4
O carro parou em frente ao barzinho.
O rapaz que desceu se
dirigiu ao balcão objetivamente e logo depois saiu com um maço de cigarros.
Ele viu o rapaz sair e pensou na vontade de ter um carro.
Um pensamento rápido nada
mais.
A mesa estava cheia.
Meia dúzia de quase
amigos.
Falavam de política, de
rock, das duas coisas.
Comiam batatas com cerveja
ao som de Raul Seixas.
Ele bebia pinga e cerveja
e tentava conversar com todos, transmitir posições, omitir opiniões...
Eles eram iguais em suas
diferenças e para ele, no momento bastava que assim fosse.
- Então você concorda?
- Claro que concordo - Respondeu ele.
Sempre concordava. Uma
atitude conciliadora utilizada para manter companhias.
No passado dizia o que
pensava e defendia abertamente suas posições numa agressividade animal que
afastava os companheiros.
Demorou em compreender que
os poucos convites às reuniões eram devido a sua pouca flexibilidade
intelectual.
Ele gostava de beber e brincar de ser feliz nas noites de sábado.
Eles também.
Ela mais que todos.
Usava uma cadeira de rodas
para se locomover.
Não era bonita, até feia.
Fingia alegria como atriz.
Alguém sempre a ajudava nas inevitáveis idas ao banheiro e enquanto todos iam
ela ficava sempre até o final.
Aquela noite ele ficou com ela até o final.
Conversaram mais, se
conheceram mais.
- É tarde.
- Eu te levo.
- Meu irmão sempre me leva. Hoje foi embora mais cedo.
Saíram do bar e ele sentiu o efeito do álcool quando empurrou a cadeira de
rodas. Lamentou a Falta do irmão.
Lamentou ter ficado até àquela
hora.
A noite estava fria e o caminho distante era uma peregrinação forçada para ele.
Ela estava se sentindo só e freou a cadeira.
- Vem cá.
- O que quer?
- Um beijo - Ele não soube explicar porque a beijou.
Ela quis mais o puxando para bem perto. Ele queria lutar, dizer coisas, mas
o desejo se manifestava em sua força alcoolizada.
- Oh moça, vamos embora. -Disse ele voltando a sua posição empurrando a cadeira
na solidão da rua.
Mas alguns metros e ela freou lhe querendo.
Ele riu para se mesmo e empurrou a cadeira para uma solidão mais sólida.
Abaixou as calças numa atitude agressiva e quis que ela o beijasse.
Ela não quis. O difícil
jeans dela lutou alguns minutos e ele a tocou com desejo.
Ela se desmanchava lasciva.
Ele lutava para se equilibrar
no veículo numa alegoria ridícula, brigando com o frio, com o medo e o amor
próprio.
O gozo não foi gozado... Pôr nenhum dos dois.
Ele a deixou no apartamento dos pais ainda chorando.
Não disse nada.
A desculpa viria quando a
ressaca passasse em algum outro encontro do grupo. A noite continuava fria.
Ele quis beber alguma
coisa...
5
O rapaz ouviu a buzina e se assustou voltando à realidade.
O poeta bebia seu café
frio na mesa ao lado.
No outro lado, um jovem
casal se tocava.
Ele bebia sua terceira
cerveja em meio a papéis rabiscados, uma rotina de três anos de quase
alcoólatra.
O bar era uma semicasa.
A casa um dormitório.
O poeta lhe sorriu mostrando um papel entre papéis e se levantou para lhe
alcançar.
- Na secura das palavras a umidade das lágrimas... – Disse mostrando o poema.
O rapaz sorriu ao ler o frio poema de um solitário.
Todos os dias a mesma
rotina noturna.
Eram pseudo amigos. Trocavam
impressões poéticas à distância, mesas separadas, vidas separadas. Distantes...
O rapaz fugia às desilusões passadas.
Bebia sua vida sentado em
sua mesa.
A mesma... Uma companheira tão fascinante quanto as cervejas.
Quase sempre eram horas
solitárias.
Às vezes uma companhia
feminina desgarrada rompia sua rotina e ele acordava para os prazeres sensuais
em uma cama de motel.
Às vezes, não parecia tão só, tantos eram os que sentavam em sua mesa:
intelectuais de esquerda, Dons Juans vagabundos, drogados alienados...
Ele esquecia sua solidão
brincando de ser feliz.
A rotina, no entanto era
os papéis rabiscados, a cerveja semivazia e o companheiro poeta da mesa ao
lado.
Às vezes escrevia também.
Poemas sobre a sua vida de
boêmio.
Suas mulheres passageiras.
Suas passageiras
companhias.
O poeta gostava do seu estilo e mostrava as suas lembranças do tempo que não
bebia café.
Falava dos drinks, das
cervejas, dos livros publicados, da decadência alcóolica, da descoberta do café
e a salvação.
Tudo era como uma lição, uma advertência para o futuro.
O rapaz sabia e esperava.
Esperava que ali naquele
bar, em uma noite qualquer, uma mudança acontecesse para romper a rotina.
Uma mudança em forma
feminina, uma paixão...
O amigo poeta à distância sabia e esperava.
O rapaz bebia sua cerveja entre papéis e rabiscos e esperava.
6
Ele parou o carro em frente ao prédio.
O cigarro girou no ar como
uma estrela e ele desceu.
O elevador parou no andar desejado e as muitas vozes da festa lhe receberam
quando entrou.
- Demorou.
- Só um pouco. - Disse olhando ao redor.
A moça lhe sorriu com um beijo e o abraçou. Ele pegou o copo de cerveja e
digeriu um pouco do líquido.
Um cheiro de canabis envolvia a música na semiescuridão da sala.
- Vem, te apresento gente.
Ele concordou.
Sentou-se junto a um grupo
de dez.
A moça se foi e a outra a
seu lado lhe sorriu com o cigarro.
Ele fumou e deixou que
outros fumassem.
- Já te vi antes.
- Provavelmente. - Disse ele.
- Em um bar...
- Frequento muitos bares. – Respondeu.
- Com uma moça.
- Conheço muitas moças.
Ela sorriu e seus cabelos loiros brilharam com uma luz suave.
Ele se recostou na parede
e fechou os olhos tentando se lembrar da companheira da noite passada.
- Marta.
- Como? – Perguntou ele sem entender.
- Meu nome.- Disse a moça.
- Paulo.
- Eu sei. - Disse ela pegando em sua mão. Ele não se assustou. A mão macia era
igual a muitas.
- Gosto desta música
- Gosto de muitas músicas.- Respondeu ele.
- Vamos dançar?
Ele concordou.
Dançaram apertados juntos
com muitos.
Ele sentiu o suor e uma leve
tontura.
Ela sorriu e o abraçou.
Ele a beijou.
Uma boca igual a outras
bocas nem melhor nem pior.
- Te quero. - Disse ela em seu ouvido.
- Também. - Disse ele sem pensar. A rapidez da conquista não o entusiasmava.
Beberam, mais. Fumaram mais. Beijaram-se mais.
- Há um quarto lá no alto.
- Eu sei.
- Sei que sabe. - Disse ela rindo.
Subiram as escadas sem
muita pressa.
Ele corria as mãos sobre o
corpo jovem e não sentia nada.
Ela estava bêbada e sorria
abobalhada.
O gosto de cerveja estava
em seus cabelos e ele sentia sede.
O quarto estava vazio e ela entrou pulando como uma garotinha.
- Desejo-te tanto que danço.- Disse ela segurando a saia longa.
Ele sorriu sem graça e acendeu um cigarro.
Ela tirou a blusa e quis que ele dançasse. Ele tentou.
- Em meu sonho você me deu muito prazer. - Disse ela em seu ouvido.
- Me conhece então? - Perguntou ele.
-Em meus sonhos.
- Eu não sonho.
Ela não o ouviu e o ajudou a tirar a blusa.
Ele beijou os seios e o
pescoço e a boca.
- Eu amo você por você estar aqui. - Disse ela.
Ele não disse nada.
Sentou na cama e começou a
tirar o sapato.
Ela dançava como uma
bailarina.
- Estou feliz... Amo ser feliz.
Ele não estava feliz. A cabeça doía e a sede lhe secava a língua.
- Me dê um beijo - Pediu ele.
- Te dou mil. - Disse ela pulando em seu colo.
Ele se sentia doente com vontade de casa.
Ela estava eufórica, louca
de amor.
As roupas voaram e ele a jogou sobre a cama.
- Me cobre de amor. - Pediu ela com os olhos em lágrimas.
- Te cubro - Disse ele deitando sobre ela.
O amor louco arranhou-lhe as costas.
Ela gemia alto frenética
mordendo seu rosto com fome.
Ele tentava entender e
suava com medo.
Quando veio o gozo ele caiu para o lado. Ela não se mexia. Ele se levantou
tonto e a observou.
Ela não se mexia.
- Menina. - Ele chamou.
Ela não respondeu em sua
quietude.
Ele se levantou e
lentamente vestiu suas roupas.
A cabeça doía. Tinha sede e lamentava ter saído de casa aquele dia.
Um vazio enorme corroía seu peito.
A menina parecia dormir.
Ele parecia dormir... Por
dentro.
A música subia as escadas enquanto ele descia a mão sobre o rosto branco da
garota nua sobre a cama.
- Foi um sonho. - Disse ele. Ela não se mexia.
Ele se levantou e com um cigarro nos lábios saiu do quarto
Lá fora, a música, a bebida e a escuridão envolviam em sombras um grupo de
jovens.
Ele lamentou ter saído de
casa aquele dia.
7
O carro passou luminoso pelos raios de Sol.
O rapaz sorriu ao imaginar
uma cor real.
Só ele parecia renascer
com a estrela, como uma cor nova.
Há dois anos só, encontrara o amor.
Não o amor de um sorriso
passageiro ou sexo gratuito de uma conquista sensual ou um beijo amigo um pouco
mais atrevido.
Não.
Encontrara o amor naquela
madrugada chuvosa, quase triste.
Ela apenas lhe sorriu.
Ele pensou em nada, mas
sorriu menino que era em seus quarenta anos.
Achou que era pouco.
Mas o aproximar mostrou
que era mais.
A fala mansa, o jeito de quem quer lhe lembraram momentos passados quase
iguais.
Eram diferentes pelas
diferenças.
Beijaram-se após as palavras e continuaram.
O toque era quase como a
visita aos céus se ele os conhecesse.
Quase como o amor antigo,
mais belo que este.
Não fizeram amor.
Mas era como se o
fizessem.
Não disseram amor.
Mas as palavras nem sempre
dizem tudo...
Quando se olhavam, era como se o mundo estivesse e não estivesse...
No entanto, quando se abandonaram era como um poço sem fundo de um tremor
interrompido.
De dor doida e indefinida.
Estava só e a solidão lhe
pedia mais do amor encontrado, ao antigo nada comparado.
Como se amores houvesse
mil.
Ele, apenas um preso ao
conhecido se deslumbrava com a possibilidade de mais, mesmo que o mais
significasse menos no futuro.
As cores do mundo lhe sorriam no amanhecer e a tristeza das dores passadas era
apenas passada.
Como os passos que sempre
ficam para traz, o passado e suas dores estavam cada vez mais distantes.
Um novo mundo renascia na claridade.
Novas possibilidades,
horizontes a viver.
Quando finalmente se
deitou na velha solidão de seu quarto, este não lhe parecia tão só.
O dia que não veria destilava amor...
No final da noite a solidão permeava milhares de corações desiludidos.
A salvação, um sonho de muitos, acontecia sempre para alguns...
Fim
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